Vamos dar início às
"seleções"!
O texto proposto foi uma crônica em que o aluno (a) deveria relacionar os sete objetos (um pacote de açúcar da confeitaria Colombo, um cordão com o pingente de coração que divide em dois, um embrulho do chocolate Sonho de Valsa, uma nota de 100 cruzados, uma concha, uma etiqueta de FRÁGIL da TAM e uma rolha de um vinho chileno, com as inscrições "Carlos ama Aida") mostrados, em sala de aula, pelo professor.
O primeiro texto escolhido usou de muita espontaneidade e foi criativo ao envolver elementos não convencionais na narrativa.
Numa caixa havia 90 tomates. Estavam apertados, um grudado no outro. No canto da caixa, bem desconfortáveis, dois tomates discutiam:
O texto proposto foi uma crônica em que o aluno (a) deveria relacionar os sete objetos (um pacote de açúcar da confeitaria Colombo, um cordão com o pingente de coração que divide em dois, um embrulho do chocolate Sonho de Valsa, uma nota de 100 cruzados, uma concha, uma etiqueta de FRÁGIL da TAM e uma rolha de um vinho chileno, com as inscrições "Carlos ama Aida") mostrados, em sala de aula, pelo professor.
O primeiro texto escolhido usou de muita espontaneidade e foi criativo ao envolver elementos não convencionais na narrativa.
Numa caixa havia 90 tomates. Estavam apertados, um grudado no outro. No canto da caixa, bem desconfortáveis, dois tomates discutiam:
- Você não se limpou. Está com um cheiro estranho e, ainda por
cima, encostado em mim! - reclamou Rosa, a tomate.
- Eu vi que você empurrou todo mundo pra chegar perto de mim e agora está reclamando?! Não precisa fingir, eu já sei de tudo. - respondeu Heitor, o tomate, como sempre, convencido.
Os tomates estavam em um caminhão que saía de uma fazenda no interior a caminho do litoral. Eram jovens, logo, cheios de energia. Discussão, por ali, era algo bem comum, mas nem sempre significava raiva ou falta de paciência, no caso de Rosa e Heitor, todos já sabiam: era amor. Quer dizer, todos sabiam, menos os dois.
- Eu vi que você empurrou todo mundo pra chegar perto de mim e agora está reclamando?! Não precisa fingir, eu já sei de tudo. - respondeu Heitor, o tomate, como sempre, convencido.
Os tomates estavam em um caminhão que saía de uma fazenda no interior a caminho do litoral. Eram jovens, logo, cheios de energia. Discussão, por ali, era algo bem comum, mas nem sempre significava raiva ou falta de paciência, no caso de Rosa e Heitor, todos já sabiam: era amor. Quer dizer, todos sabiam, menos os dois.
Os dois tomates tinham muitas
coisas em comum, uma delas era o desejo pela liberdade. Rosa e Heitor não sabiam o que aconteceria a eles após a saída da fazenda, mas compartilhavam o mesmo desejo: fugir e conhecer a cidade. E foi
exatamente isso que fizeram ao chegar ao litoral: planejar uma fuga.
Ao amanhecer decidiram partir. Rosa deixou claro para Heitor que só estava fugindo com ele porque não havia outra maneira de achar a liberdade. Heitor disse ser recíproco. Estavam em uma loja de comidas ou algo do tipo. Com medo andaram rapidamente entre cadeiras e mesas. Em cima de uma mesa Rosa pegou um pacotinho de açúcar onde se lia “Confeitaria Colombo”. “Ninguém gostaria de um tomate com açúcar”, pensou. Poderia ser um modo de se defender. Já Heitor correu para o caixa e pegou uma nota de 100 cruzados, nunca se sabe quando um tomate precisará de dinheiro. Eram tomates prevenidos.
Deixaram rapidamente a confeitaria e decidiram seguir em direção à praia. Se havia um lugar falado no interior, que todos queriam conhecer, era a praia. Rosa e Heitor, como todos, desejavam visitar.
– Que lugar mais lindo – exclamou a tomate – Céu azul, água azul...
– Concha azul! – disse o tomate, de repente.
Ao amanhecer decidiram partir. Rosa deixou claro para Heitor que só estava fugindo com ele porque não havia outra maneira de achar a liberdade. Heitor disse ser recíproco. Estavam em uma loja de comidas ou algo do tipo. Com medo andaram rapidamente entre cadeiras e mesas. Em cima de uma mesa Rosa pegou um pacotinho de açúcar onde se lia “Confeitaria Colombo”. “Ninguém gostaria de um tomate com açúcar”, pensou. Poderia ser um modo de se defender. Já Heitor correu para o caixa e pegou uma nota de 100 cruzados, nunca se sabe quando um tomate precisará de dinheiro. Eram tomates prevenidos.
Deixaram rapidamente a confeitaria e decidiram seguir em direção à praia. Se havia um lugar falado no interior, que todos queriam conhecer, era a praia. Rosa e Heitor, como todos, desejavam visitar.
– Que lugar mais lindo – exclamou a tomate – Céu azul, água azul...
– Concha azul! – disse o tomate, de repente.
– É pra você – disse o tomate ao
entregar o embrulho para a tomate.
Ela riu visivelmente feliz.
– Sabe – ele continuou – eu gosto muito de você.
Rosa respondeu:
– Eu também gosto de você, tomate. Você sabe.
Ela riu visivelmente feliz.
– Sabe – ele continuou – eu gosto muito de você.
Rosa respondeu:
– Eu também gosto de você, tomate. Você sabe.
Os
tomates andaram felizes pela praia durante toda a manhã, deitaram na areia,
olharam para o céu, beijaram-se... coisa de tomate. No meio do caminho Rosa
sentiu algo em seu pé.
– Olha aqui, Heitor!
– Um colar de coração?!
– É! Vamos usar, vem.
– Olha aqui, Heitor!
– Um colar de coração?!
– É! Vamos usar, vem.
Rosa pegou uma metade e Heitor a outra, tentaram colocar, mas não conseguiram, afinal, eram tomates! Às vezes esqueciam disso.
Caminharam e caminharam. Encontraram, por acaso, um casal de tomates andando pela praia. Esse casal já não parecia tão jovem, a pele escurecida e enrugada entregava.
Rosa e Heitor conversaram por algum tempo com o outro casal. Era Carlos e Aida. Vieram, também, do interior quando jovens e fugiram ao chegar no litoral. Aquela era a história de amor que qualquer casal de tomates esperava ter.
Os tomates entreteram-se tanto que nem viram o dia passar. De repente, já era noite. Carlos e Aida convidaram os outro casal para passar a noite em sua casa. Como não tinham para onde ir aceitaram o convite.
A casa de Carlos e Aida era em uma rua escura e um pouco sombria. Apesar disso, não era um local isolado, pelo contrário, era muito movimentado. Os carros não paravam de passar na Rua Jaime Silvado.
Caminharam e caminharam. Encontraram, por acaso, um casal de tomates andando pela praia. Esse casal já não parecia tão jovem, a pele escurecida e enrugada entregava.
Rosa e Heitor conversaram por algum tempo com o outro casal. Era Carlos e Aida. Vieram, também, do interior quando jovens e fugiram ao chegar no litoral. Aquela era a história de amor que qualquer casal de tomates esperava ter.
Os tomates entreteram-se tanto que nem viram o dia passar. De repente, já era noite. Carlos e Aida convidaram os outro casal para passar a noite em sua casa. Como não tinham para onde ir aceitaram o convite.
A casa de Carlos e Aida era em uma rua escura e um pouco sombria. Apesar disso, não era um local isolado, pelo contrário, era muito movimentado. Os carros não paravam de passar na Rua Jaime Silvado.
Rosa e
Heitor entraram na casa. Era grande e limpa, cheia de retratos na parede. Todas
as fotos eram de Aida e Carlos. Não havia amigos, nem família. Nada. Só os
dois. Pareciam solitários.
– Nunca conhecemos nenhum outro tomate por aqui, sabiam? Eles não costumam ter uma vida longa – disse Aida – Eu guardei um vinho chileno que ganhei do Carlos para uma ocasião especial. Temos outro casal de tomates aqui, então, acredito ser uma ocasião especial, não?
– Nunca conhecemos nenhum outro tomate por aqui, sabiam? Eles não costumam ter uma vida longa – disse Aida – Eu guardei um vinho chileno que ganhei do Carlos para uma ocasião especial. Temos outro casal de tomates aqui, então, acredito ser uma ocasião especial, não?
Aida trouxe o vinho e todos tomaram na sala acompanhados de músicas, histórias e risadas. Heitor leu
na rolha do vinho “Carlos ama Aida – maio de 1982”. Havia 5 anos.
Para os jovens aquela noite era
a melhor de suas vidas e o vinho a melhor coisa que já tinham experimentado.
Eles beberam mais e mais, deixaram a alegria tomar conta.
Ainda interessados em conhecer um pouco da cidade decidiram deixar a casa, por um momento, e sair pela noite. Ninguém sequestraria ou roubaria um tomate. Ou seja, sem perigos.
Eles correram pela rua, riram, brincaram, deitaram no asfalto para olhar as estrelas. Românticos como tomates são.
– Te amo, Rosa.
– Te amo, Heitor.
Plaft.
Plaft.
Os carros não paravam de passar na Rua Jaime Silvado.
Ainda interessados em conhecer um pouco da cidade decidiram deixar a casa, por um momento, e sair pela noite. Ninguém sequestraria ou roubaria um tomate. Ou seja, sem perigos.
Eles correram pela rua, riram, brincaram, deitaram no asfalto para olhar as estrelas. Românticos como tomates são.
– Te amo, Rosa.
– Te amo, Heitor.
Plaft.
Plaft.
Os carros não paravam de passar na Rua Jaime Silvado.
Aluna: Camila Medeiros
O segundo texto é bem escrito, simples, direto e surpreendente.
Lembranças
Entro na Confeitaria Colombo e pergunto-me o porquê de estar ali. Por
algum motivo os saquinhos de açúcar atraem minha atenção, talvez seja uma
lembrança de um dia feliz. Não consigo lembrar, nem peço um café ou algo para
comer, fico apenas a observar os
arredores.
Levanto para ir embora e vejo-o passando na rua, uma
coincidência.Segura uma pequena caixa em suas mãos, com um adesivo cor-de-rosa escrito “Frágil”.Gostaria de saber
o que tem dentro, mas não possuo a coragem de perguntar. Por um momento sinto
inveja dessa pequena estrutura de papelão que segura com tanta convicção. Parece
decidido a fazer algo. Sinto vontade de ficar ao seu lado para ver qual o seu
destino.
A única coisa que sei, no momento, é da minha invisibilidade aos seus olhos. Apaixonei-me por você, repleto de cores muito distantes do meu transparente.Gostaria de ter recebido algum tipo de
coloração. Dê-me amarelo, preto ou, até, branco só para poder chegar um
pouco mais perto e ser notada.
Ao passar pela Praça da Cruz Vermelha você para, compra um bombom
Sonho de Valsa e senta para admirar a paisagem. Lembro agora de um mestre que
mencionou esse chocolate. Ele disse representar a saudade. Será que você
sente a falta de alguém nesse momento? Sente falta da dona do outro colar
cara-metade que se encontra em seu pescoço? Enquanto eu estava no meio de uma epifania, você se levanta; o que me interrompe; e continua a
seguir caminho. Mantenho distância, mas ainda me sinto atraída para saber mais.
Até que, quinze minutos depois,passa pelas portas de um cemitério.
Seu humor parece ter mudado, vejo suas mãos tremerem um pouco. Chega
à frente de um túmulo, deve ser de sua amada, e tira alguns objetos do
recipiente que carrega desde o início. Alguns chamam minha atenção, como a
garrafa de vinho Tamaya, uma concha e notas antigas.
Vejo uma praia, você e essas peças. Mas, essas memórias não são minhas.
Ou são? Tudo se torna confuso e diminuo a distância entre nós para tentar
enxergar melhor e entender o que se passa. Consigo ler “Carlos ama Aida, Maio de
1982” na rolha do vinho chileno. Lembro de uma carta de amor na garrafa lacrada
que achamos no mar junto aos cem cruzados. Uma história de amor que havia dado
certo, diferente da nossa.Olho para a lápide, nela meu nome.
A terceira história foi totalmente inovadora, fugiu dos clichês que os objetos remetem sem deixar de ser agressivamente envolvente.
De um tempo que morreu
O coração de Jaqueline era frágil, como o vaso chinês que levava para sua mãe, cuidadosamente embalado e etiquetado pela TAM. Eu destruí seu coração, esmaguei-o entre meus dedos sem piedade e joguei-o no lixo como se fosse carne podre; porém, mantive seu vaso de muito bom gosto. Ela foi minha primeira vítima. A primeira do Massacre da Pousada Portobello.
Não queria matá-los, eles me forçaram. Eram felizes demais. Todos os cinco. Meu coração, um dia, já fora, hoje é de pedra, quase tão duro quanto o colar que Martha usava. Um pequeno coração de metal é tudo que guardo de lembrança dela, minha segunda vítima. De seus pais, que ficaram em quarto e quinto lugar , guardei o vinho chileno. Não cheguei a bebê-lo, ainda repousa em minha adega, sujo do sangue explodido dos corpos de seus antigos donos após minhas machadadas. No entanto não era a única garrafa de vinho levada para minha pousada. Outra, bebida na primeira noite de estadia, havia servido de autodefesa para Aida, após me ver destroçando seu marido Carlos. Dessa garrafa mantive a rolha, na qual escreveram uma promessa de amor eterno.
Da vítima número três guardei muitas coisas. Foi minha morte mais saborosa. É horrível aformar isso, mas é verdade. Talvez tenha sido sua autoconfiança, seu jeito de andar e falar, como se nada o preocupasse ou o fato de ser um daqueles tubarões do mundo executivo, que roubam e trapaceiam para se dar bem com a mesma facilidade de um leão atacando sua presa. Ele simplesmente inspirou meu ódio dando-me a morte mais deliciosa.
Um pacote de açúcar da confeitaria Colombo e uma embalagem vazia de Sonho de Valsa foram as duas únicas coisas que tirei dos bolsos de sua calça jeans antes de enfiá-la na máquina de lavar. Diverti-me tentando imaginar onde havia conseguido tal itens - o pacote, provavelmente , originara de algum encontro amoroso, alguma conquista importante - enquanto a água tornava-se vermelha. Ao meu lado suas duas pernas decepadas assistiam tudo.
Os olhos azuis de Martha encaravam-me enquanto arrumava a casa, no dia seguinte. Encaravam-me com com acusações, arrependimento e dor mesmo que não tivessem um rosto para suportar tais sentimentos. Tentei sentir o mesmo que eles, espremer um pouco de compaixão de minhas roupas ensanguentadas. Não consegui. Estava além desse tipo de moralidade.
Acordei com som de sirenes. Não sei se verdadeiras ou não. Quem sabe ainda tivesse algum sentimento guardado aqui dentro? Ou vai ver a polícia estava chegando.
Levantei com urgência e escancarei as portas do meu armário. Meu encéfalo gritava "FUGA!". Procurei minha menos mala e joguei úteis dentro dela, roupas simples, discretas, a concha do dia em que matei meu primeiro cachorrinho, a nota de cem cruzados, herança deixada por meu pai antes de falecer por envenenamento... Aquilo não estava certo, não sentia certo, eu estava condenado!
Larguei a mala e olhei para a janela, a lua sorria para mim com cumplicidade. Aquela noite estava macabra, mais que o normal. Sentia o fim. Precisava me render, pagar por todos os meus pecados, por todas as minhas mentiras.
Larguei a mala e olhei para a janela, a lua sorria para mim com cumplicidade. Aquela noite estava macabra, mais que o normal. Sentia o fim. Precisava me render, pagar por todos os meus pecados, por todas as minhas mentiras.
Eles não eram tão felizes assim, eu apenas queria matá-los.
Aluno: Adalberto Sampaio
É isso pessoal, espero que tenham gostado.
Beijos e até a próxima postagem,