segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Texto dos objetos


Vamos dar início às "seleções"!

O texto proposto foi uma crônica em que o aluno (a) deveria relacionar os sete objetos (um pacote de açúcar da confeitaria Colombo, um cordão com o pingente de coração que divide em dois, um embrulho do chocolate Sonho de Valsa, uma nota de 100 cruzados, uma concha, uma etiqueta de FRÁGIL da TAM e uma rolha de um vinho chileno, com as inscrições "Carlos ama Aida") mostrados, em sala de aula, pelo professor.

O primeiro texto escolhido usou de muita espontaneidade e foi criativo ao envolver elementos não convencionais na narrativa. 

Numa caixa havia 90 tomates. Estavam apertados, um grudado no outro. No canto da caixa, bem desconfortáveis, dois tomates discutiam:
- Você não se limpou. Está com um cheiro estranho e, ainda por cima, encostado em mim! - reclamou Rosa, a tomate.
- Eu vi que você empurrou todo mundo pra chegar perto de mim e agora está reclamando?! Não precisa fingir, eu já sei de tudo. - respondeu Heitor, o tomate, como sempre, convencido.
          Os tomates estavam em um caminhão que saía de uma fazenda no interior a caminho do litoral. Eram jovens, logo, cheios de energia. Discussão, por ali, era algo bem comum, mas nem sempre significava raiva ou falta de paciência, no caso de Rosa e Heitor, todos já sabiam: era amor. Quer dizer, todos sabiam, menos os dois. 
           Os dois tomates tinham muitas coisas em comum, uma delas era o desejo pela liberdade. Rosa e Heitor não sabiam o que aconteceria a eles após a saída da fazenda, mas compartilhavam o mesmo desejo: fugir e conhecer a cidade. E foi exatamente isso que fizeram ao chegar ao litoral: planejar uma fuga.
           Ao amanhecer decidiram partir. Rosa deixou claro para Heitor que só estava fugindo com ele porque não havia outra maneira de achar a liberdade. Heitor disse ser recíproco.  Estavam em uma loja de comidas ou algo do tipo. Com medo andaram rapidamente entre cadeiras e mesas. Em cima de uma mesa Rosa pegou um pacotinho de açúcar onde se lia “Confeitaria Colombo”.  “Ninguém gostaria de um tomate com açúcar”, pensou. Poderia ser um modo de se defender. Já Heitor correu para o caixa e pegou uma nota de 100 cruzados,  nunca se sabe quando um tomate precisará de dinheiro. Eram tomates prevenidos.
            Deixaram rapidamente a confeitaria e decidiram seguir em direção à praia. Se havia um lugar falado no interior, que todos queriam conhecer, era a praia. Rosa e Heitor, como todos, desejavam visitar.
            – Que lugar mais lindo – exclamou a tomate – Céu azul, água azul...
            – Concha azul! – disse o tomate, de repente.
        
  No chão uma linda concha azul brilhava. Como se estivesse ali apenas para combinar com a paisagem. Heitor silenciosamente pegou em sua mala um papel de Sonho de Valsa e, com ele, fez um embrulho na concha. Rosa olhava sem entender bem. 
         – É pra você – disse o tomate ao entregar o embrulho para a tomate.
         Ela riu visivelmente feliz.
        – Sabe – ele continuou – eu gosto muito de você.
        Rosa respondeu:
        – Eu também gosto de você, tomate. Você sabe.
        
  Os tomates andaram felizes pela praia durante toda a manhã, deitaram na areia, olharam para o céu, beijaram-se... coisa de tomate. No meio do caminho Rosa sentiu algo em seu pé.
       – Olha aqui, Heitor!
       – Um colar de coração?!
       – É! Vamos usar, vem.
      
  Rosa pegou uma metade e Heitor a outra, tentaram colocar, mas não conseguiram, afinal, eram tomates! Às vezes esqueciam disso.
      Caminharam e caminharam. Encontraram, por acaso, um casal de tomates andando pela praia. Esse casal já não parecia tão jovem, a pele escurecida e enrugada entregava.
      Rosa e Heitor conversaram por algum tempo com o outro casal. Era Carlos e Aida. Vieram, também, do interior quando jovens e fugiram ao chegar no litoral. Aquela era a história de amor que qualquer casal de tomates esperava ter.
       Os tomates entreteram-se tanto que nem viram o dia passar. De repente, já era noite. Carlos e Aida convidaram os outro casal para passar a noite em sua casa. Como não tinham para onde ir aceitaram o convite.
       A casa de Carlos e Aida era em uma rua escura e um pouco sombria. Apesar disso, não era um local isolado, pelo contrário, era muito movimentado. Os carros não paravam de passar na Rua Jaime Silvado.

       Rosa e Heitor entraram na casa. Era grande e limpa, cheia de retratos na parede. Todas as fotos eram de Aida e Carlos. Não havia amigos, nem família. Nada. Só os dois. Pareciam solitários.
        – Nunca conhecemos nenhum outro tomate por aqui, sabiam? Eles não costumam ter uma vida longa – disse Aida – Eu guardei um vinho chileno que ganhei do Carlos para uma ocasião especial. Temos outro casal de tomates aqui, então, acredito ser uma ocasião especial, não?
     
      Aida trouxe o vinho e todos tomaram na sala acompanhados de músicas, histórias e risadas. Heitor leu na rolha do vinho “Carlos ama Aida – maio de 1982”. Havia 5 anos. 
      Para os jovens aquela noite era a melhor de suas vidas e o vinho a melhor coisa que já tinham experimentado. Eles beberam mais e mais, deixaram a alegria tomar conta.
      Ainda interessados em conhecer um pouco da cidade decidiram deixar a casa, por um momento, e sair pela noite. Ninguém sequestraria ou roubaria um tomate. Ou seja, sem perigos.
        Eles correram pela rua, riram, brincaram, deitaram no asfalto para olhar as estrelas. Românticos como tomates são.
        – Te amo, Rosa.
        – Te amo, Heitor.
        Plaft.
       Plaft.
        Os carros não paravam de passar na Rua Jaime Silvado.
     
Aluna: Camila Medeiros

O segundo texto é bem escrito, simples, direto e surpreendente.

      Lembranças

  Entro na Confeitaria Colombo e pergunto-me o porquê de estar ali. Por algum motivo os saquinhos de açúcar atraem minha atenção, talvez seja uma lembrança de um dia feliz. Não consigo lembrar, nem peço um café ou algo para comer, fico apenas a observar os arredores.
  
  Levanto para ir embora e vejo-o passando na rua, uma coincidência.Segura uma pequena caixa em suas mãos, com um adesivo cor-de-rosa escrito “Frágil”.Gostaria de saber o que tem dentro, mas não possuo a coragem de perguntar. Por um momento sinto inveja dessa pequena estrutura de papelão que segura com tanta convicção. Parece decidido a fazer algo. Sinto vontade de ficar ao seu lado para ver qual o seu destino.
  
  A única coisa que sei, no momento, é da minha invisibilidade aos seus olhos. Apaixonei-me por você, repleto de cores muito distantes do meu transparente.Gostaria de ter recebido algum tipo de coloração. Dê-me amarelo, preto ou, até, branco só para poder chegar um pouco mais perto e ser notada.
  
  Ao passar pela Praça da Cruz Vermelha você para, compra um bombom Sonho de Valsa e senta para admirar a paisagem. Lembro agora de um mestre que mencionou esse chocolate. Ele disse representar a saudade. Será que você sente a falta de alguém nesse momento? Sente falta da dona do outro colar cara-metade que se encontra em seu pescoço? Enquanto eu estava no meio de uma epifania, você se levanta; o que me interrompe; e continua a seguir caminho. Mantenho distância, mas ainda me sinto atraída para saber mais. Até que, quinze minutos depois,passa pelas portas de um cemitério.
  
  Seu humor parece ter mudado, vejo suas mãos tremerem um pouco. Chega à frente de um túmulo, deve ser de sua amada, e tira alguns objetos do recipiente que carrega desde o início. Alguns chamam minha atenção, como a garrafa de vinho Tamaya, uma concha e notas antigas.
  
  Vejo uma praia, você e essas peças. Mas, essas memórias não são minhas. Ou são? Tudo se torna confuso e diminuo a distância entre nós para tentar enxergar melhor e entender o que se passa. Consigo ler “Carlos ama Aida, Maio de 1982” na rolha do vinho chileno. Lembro de uma carta de amor na garrafa lacrada que achamos no mar junto aos cem cruzados. Uma história de amor que havia dado certo, diferente da nossa.Olho para a lápide, nela meu nome.

Aluna: Vitória Santos

A terceira história foi totalmente inovadora, fugiu dos clichês que os objetos remetem sem deixar de ser agressivamente envolvente.

De um tempo que morreu

O coração de Jaqueline era frágil, como o vaso chinês que levava para sua mãe, cuidadosamente embalado e etiquetado pela TAM. Eu destruí seu coração, esmaguei-o entre meus dedos sem piedade e joguei-o no lixo como se fosse carne podre; porém, mantive seu vaso de muito bom gosto. Ela foi minha primeira vítima. A primeira do Massacre da Pousada Portobello.

Não queria matá-los, eles me forçaram. Eram felizes demais. Todos os cinco. Meu coração, um dia, já fora, hoje é de pedra, quase tão duro quanto o colar que Martha usava. Um pequeno coração de metal é tudo que guardo de lembrança dela, minha segunda vítima. De seus pais, que ficaram em quarto e quinto lugar , guardei o vinho chileno. Não cheguei a bebê-lo, ainda repousa em minha adega, sujo do sangue explodido dos corpos de seus antigos donos após minhas machadadas. No entanto não era a única garrafa de vinho levada para minha pousada. Outra, bebida na primeira noite de estadia, havia servido de autodefesa para Aida, após me ver destroçando seu marido Carlos. Dessa garrafa mantive a rolha, na qual escreveram uma promessa de amor eterno.

Da vítima número três guardei muitas coisas. Foi minha morte mais saborosa. É horrível aformar isso, mas é verdade. Talvez tenha sido sua autoconfiança, seu jeito de andar e falar, como se nada o preocupasse ou o fato de ser um daqueles tubarões do mundo executivo, que roubam e trapaceiam para se dar bem com a mesma facilidade de um leão atacando sua presa. Ele simplesmente inspirou meu ódio dando-me a morte mais deliciosa.

Um pacote de açúcar da confeitaria Colombo e uma embalagem vazia de Sonho de Valsa foram as duas únicas coisas que tirei dos bolsos de sua calça jeans antes de enfiá-la na máquina de lavar. Diverti-me tentando imaginar onde havia conseguido tal itens - o pacote, provavelmente , originara de algum encontro amoroso, alguma conquista importante - enquanto a água tornava-se vermelha. Ao meu lado suas duas pernas decepadas assistiam tudo. 

Os olhos azuis de Martha encaravam-me enquanto arrumava a casa, no dia seguinte. Encaravam-me com com acusações, arrependimento e dor mesmo que não tivessem um rosto para suportar tais sentimentos. Tentei sentir o mesmo que eles, espremer um pouco de compaixão de minhas roupas ensanguentadas. Não consegui. Estava além desse tipo de moralidade.

Acordei com som de sirenes. Não sei se verdadeiras ou não. Quem sabe ainda tivesse algum sentimento guardado aqui dentro? Ou vai ver a polícia estava chegando. 

Levantei com urgência e escancarei as portas do meu armário. Meu encéfalo gritava "FUGA!". Procurei minha menos mala e joguei úteis dentro dela, roupas simples, discretas, a concha do dia em que matei meu primeiro cachorrinho, a nota de cem cruzados, herança deixada por meu pai antes de falecer por envenenamento... Aquilo não estava certo, não sentia certo, eu estava condenado!

Larguei a mala e olhei para a janela, a lua sorria para mim com cumplicidade. Aquela noite estava macabra, mais que o normal. Sentia o fim. Precisava me render, pagar por todos os meus pecados, por todas as minhas mentiras.
Eles não eram tão felizes assim, eu apenas queria matá-los. 

Aluno: Adalberto Sampaio

É isso pessoal, espero que tenham gostado. 

Beijos e até a próxima postagem,



sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Poesias através de figuras

Essa é a nossa primeira postagem no blog e começaremos com o nível elevado!
A proposta foi que grupos de 6 a 7 pessoas soltassem sua criatividade ao ver, rever e detalhar uma imagem com um verbo ou um objeto escrito atrás.
Os alunos tinham que relacionar a palavra com a imagem e, assim, escrever uma poesia.
Não foi fácil, mas o empenho fez com que em 20 minutos saíssem da mente desses alunos textos bem criativos e reflexivos. E, no final, fomos nos deliciar em um pequinique para lermos as produções.


E aí vão:
*as palavras em negrito são as escritas na imagem

Ondas do tempo

Nado nas ondas do tempo
Ele não volta mais.
Um afago realento
Que saudade que me traz

Nado nas ondas do tempo
Que não conseguem parar
Afogam meu pensamento
E não vão me sustentar.

Nado nas ondas do tempo
Tentando voltar atrás
Estou chorando no cais
Ele insiste em não voltar mais.

Grupo: Bianca Marinho, Lanna Alves, Júlia Pereira, Laís Cristina, Juliana Simões, Gabriela Barros.

Fantasmas do tempo

A pele castigada expõe fissuras,
feridas que o corpo não pôde sarar.
Seguro na mão o futuro que tive
e o passado que ele não terá.

Triste a ironia do tempo
não discrimina a quem se encerra
pelo velho ou pelo novo
o destino não espera.

Aquele que mal nasceu
com o fantasma vai embora.
E eu que muito vivi
o encontrarei outrora.

Grupo: Felipe Souza, Fabiane Coelho, Davi Quintanilha, Igor Nogueira, Letícia Leotti e Fellipe Rocha.

O tempo passou e eu sofri calado

Devia ter acostumado-se,
mas o adeus preferiu dar
Seu coração saiu despedaçado
não conseguiu se adaptar.

Pela janela ela via
as coisas por que sofria
Ele a tratava com desdém
mas sempre a procurava em outro alguém.

Pelo reflexo da janela
enxergava outra pessoa
Aquilo que um dia foi dela
hoje, livremente, voa.

Grupo: Anna Luiza Lopes, Ana Tereza Libânio, Flávia Martins, Camilla Amaro, Andressa Rios, André Villas Bôas, Maria Luiza Fialho.

Esse fez dois poemas:

Sem título 1

Mordi sua maçã
e mordeu a minha
Tudo assim fora dividido
fruto outrora proibido

A fome era intensa
a sede consumia-me
meu pesar tua boca abrevia
suporta-me, silencia-me
amaria-me, repensa-me
até secar de silêncio
aquela mordida na maçã.

Sem título 2

Nos olhos frente, perto e leve
Proximidade, sabor de pele
O gosto da maçã do rosto
Exposto
anseia por teu beijo como quem tem sede
de ceder à vontade.

Afogar, na verdade,
os sentimentos reprimidos
nos nossos lábios, perdidos

Afogar na vontade
os desejos latentes
dos nossos corações latentes.

Grupo: Bachir Gemayel, Bruna Serafini, Camila Medeiros, Álison da Silva, Rafael Montenegro, Gabriel Neves, Emanuel de Brito, Yohanne Auana.

Esse grupo fez um poema-experimental:

Sem título

A lua chama-me,
mas eu a ignoro
Memória, alegria, lembrança
Coisas sobre as quais eu choro.

Por que me questionas, por que me pertubas?
Eu não sei rimar
Tchururubas talvez não saibam amar
Só sei amar
Na verdade, nem isso
Eu só sei chorar.

Lua nua e crua
Não me deixe sozinho na rua
A lua é sua
A rua é suja
Ou será a lua?

Ou será uma vaca nua
Será? Não
Não existem luas
Não me possuas
Não aqui, na rua

Existe lua para astronautas
Pessoas que não acreditam se são sintos
não existe sintos
Mas o que os neologismos são
se não um pedaço do seu coração?

Grupo: Henrique Bolzan, Adalberto Sampaio, Amanda Venício, Cássio Tyrone, Igor Rodrigues, Laura Poffo, Vitória Santos.

Espero que tenham curtido!
Até a próxima postagem.